POR QUE VIAJO SOZINHA?
Há muito tempo, antes da internet ser inventada, fábulas eram usadas para transmitir lições e conhecimento. A cigarra, ou o gafanhoto, eram usados como símbolo de alguém cuja única preocupação era o prazer. Na realidade, as cigarras passam a maior parte de suas vidas debaixo da terra – entre 13-17 anos – e elas têm apenas alguns dias de vida na superfície, depois de um período de transformação em que ganham asas. E logo depois, morrem.
Como mulheres podem superar o medo e descobrir o prazer e a curiosidade através de suas experiências?
Como viajar sozinha pode representar um ato de desobediência e liberdade na sociedade contemporânea?
Qual o papel da arte e do uso da expressão do eu nesse contexto?
Essas questões que conectam experiências individuais ao imaginário coletivo são o ponto de partida para um processo de criação e um projeto de pesquisa que intitulei POR QUE VIAJO SOZINHA?
O projeto surgiu em mim quando li sobre a história de duas turistas argentinas, Maria Coni e Marina Menegazzo, que foram assassinadas no Equador em 2016. Depois dos assassinatos, uma campanha virtual usando a hashtag #viajosola foi criada, encorajando mulheres que viajam sozinhas a enfrentar o medo e ir.
Eu me dei conta de que essas mulheres estavam tentando criar uma identidade feita de quem elas são e de quem elas desejam ser. Elas querem ser livres para ir e vir, elas querem sentir prazer ao invés de medo, elas querem criar um novo imaginário coletivo através de suas experiências e histórias.
Arte e entretenimento têm um papel primordial na criação do imaginário coletivo e são importantes para auxiliar mulheres na construção de protagonismo, além de poderem ser usados como suporte para a expansão do movimento.
Essa consideração serviu como base para a minha pesquisa de mestrado no campo das artes visuais e para a produção de obras que acompanham o estudo, entre elas os videopoemas POSTAL DO CORPO (protótipo – 2018) e SOLITUDE FEMININA – ESPAÇO, TEMPO E CORPO (2019), a instalação colaborativa MERGULHA EM MIM (protótipo – 2018), o documentário POR QUE VIAJO SOZINHA? (em processo de desenvolvimento) e a performance MOVIMENTO SOLO (em processo de desenvolvimento).
POSTAL DO CORPO (2018)
POSTAL DO CORPO OU ITINERÁRIO DE UM MERGULHO EM MIM (POEMA)
Acordei cedo no primeiro dia e caminhei até o ventre para ter uma visão geral. Rumei norte até o umbigo. Apreciei a vista do orifício imaginando o que estaria do outro lado. No dia seguinte, segui viagem até o peitoral. Estava cansada. Tinha a opção de continuar pelo vale ou arriscar uma escalada. Escolhi o seio direito pela pinta que estava logo adiante. Quando alcancei a ponta, pingava suor. Mas que vista! Sentei um pouco no conforto dos mamilos para recuperar o fôlego. Esperei um vento favorável e peguei um atalho pelos ares até a boca. Que voo! Que aterrisagem! Que por-do-sol maravilhoso! Amanhã tem mais. O sul promete um dia inesquecível. Mas você terá que imaginar como foi enquanto lê este postal. Aproveite a vantagem desses mistérios entre o tempo passado, presente e futuro da correspondência que nunca poderemos controlar.
MERGULHA EM MIM (2018)
Montagem do protótipo da instalação para visitação pública:
Video requests (inglês):
Vídeos com os pedidos (português):
Fragmentos do protótipo da instalação:
Dissertação de mestrado: